terça-feira, 19 de julho de 2011

Alzheimer

No sábado encontrei uma senhora que foi minha vizinha durante quase toda a minha infância e que não via há anos. Era quase como uma Avó e eu passava dias inteiros com ela nas férias.
Há uns tempos, quis ir visitá-la, mas a minha Mãe disse que eu tinha de me preparar. Tinha-lhe sido diagnosticada a doença de Alzheimer e certamente não me iria reconhecer.
Quando a encontrei no sábado, não pensei duas vezes. Mal a vi, fui logo ter com ela. Olhou para mim e perguntei-lhe se me reconhecia. Disse que não. Quando me apresentei, sorriu e deu-me um beijinho e um abraço. Tive a certeza, naquele momento, que me tinha reconhecido. Uns segundos depois, a minha Mãe chegou. Reconheceu-a e olhou para mim. Perguntou: quem é?. A minha Mãe disse quem eu era e que era sua filha. Ela olhou para mim, beijou-me e disse muito prazer em conhecê-la. Um minuto depois, voltou a fazer o mesmo. E voltou a beijar-me e a dizer muito prazer em conhecê-la. E foi assim, em apenas alguns minutos, umas cinco vezes.Fiquei chocada. Haverá doença mais triste do que esta? Pelo que entendi, vive noutro ano. Tem noção que ainda está nos anos 80, 90. Há dias que não conhece os filhos nem os netos, e noutros nem a si própria se conhece.
Não consigo imaginar nada mais horrível. Acordar e não reconhecer ninguém à minha volta. Acordar e sentir-me só no mundo. A vida dela foi totalmente apagada pela doença e nada a trará de volta. É como morrer e continuar vivo. E não deve haver nada pior.

36 comentários:

Mia disse...

"Sem história não se sai do lugar: Corre-se no nada, do nada para o nada. E envelhece-se na mesma. E morre-se mesmo"

Também escrevi sobre isso:

http://pegadafeminina.blogspot.com/2011/05/das-historias.html

*B* disse...

Mia, vou ler.

:)

ana disse...

O meu avô tem alzheimer e senti isso ao início. Por ele ter a consciência de que não se lembrava de mim fingia que me conhecia e depois perguntava à socapa quem era eu. E fazia isso com todas as pessoas a certa altura.

Ao início fez-me muita confusão. Essa mesma confusão aqui descrita. Mas depois, para melhor se lidar com as situações, passei a pensar que ele simplesmente vive num outro mundo, só dele, com uma linguagem própria.

Não sei se as pessoas têm essa consciência do que estão a perder, como nós temos. Porque os conceitos por que se rege o cérebro deles já não são os nossos. Ou pelo menos eu tento pensar assim para descansar a revolta que poderia sentir por essa doença me ter roubado um avô que ainda hoje deveria ter, o meu exemplo de vida.

É uma doença que passa por uma fase muito desgastante para quem convive com ela mas se hoje me perguntarem se sou feliz com o meu avô eu digo, sem dúvida, que sou, sim. Bastou arranjar uma linguagem que unisse os nossos dois mundos.

Dina disse...

É uma doença que me assusta imenso. Só de pensar na dor diária que provoca nos doentes mas também nos familiares!

Benedita disse...

Que injustiça! Uma doença ter o poder de limpar da nossa memória o que às vezes é tudo o que resta no fim da vida: as recordações!

Anónimo disse...

Também já escrevi sobre isso e confesso que é uma doença da qual tenho muito medo. Não que tenha casos na família com Alzheimer, porque não tenho, mas a doença em si é assustadora. É como dizes no teu post: é morrer estando vivo.

Beijinho :)

P.S. Obrigada pela ajuda com o favicon. Eu tinha feito tudo direitinho e só depois percebi que ele demora algum tempo a aparecer (lol).

Joana disse...

não imagino a angústia... sobretudo para ti, já que ela não se lembra... para o bem e para o mal :/

Ju disse...

Ai, tens toda a razão! :S

Jasmim disse...

É sem dúvida muito triste, tenho casos muito próximos e custa ...

Pam disse...

Felizmente não conheço ninguém que viva esta realidade de perto mas é uma doença que também me assusta muito. Pensar que, a qualquer momento, pode ser diagnosticada a um dos meus, é terrível. Não imagino como será a vida destas pessoas... A sério, que medo :(

Serena Martinez disse...

É mesmo triste fogo.. uma doença que é capaz de apagar uma vida inteira de experiências e sentimentos :s

*

Clëo disse...

deve ser muito triste... :(

Nadine Pinto | Fotografia disse...

Bolas, fiquei arrepiada.
E eu que tenho um extenso rol de casos de Alzheimer na minha família. Que medo.

lena ruivo disse...

eu tb
tenho a minha mãe e as minhas 3 tias com este problema eu vivo com a minha mãe e é maior a nossa angustia que a dela.
as vezes chora muito segundo a médica diz é nestes momentos que ela tem um bocadinho de lucidez.
é muito degradante é horrível mas apesar de ela não se lembrar sequer dos filhos nós lembramos-nos dela e será se deus quiser tratada com todo o carinho que pudermos.

L'Enfant Terrible disse...

É uma doença terrível ao ponde de chegar a ser estúpida!

M. disse...

Isso não é nada, minha querida, ainda está na fase inicial. Quem me dera que fosse só isso...
Beijinhos,
Madalena

Nokas disse...

Infelizmente vivi de perto essa doença...ver a minha avó a morrer aos poucos foi demasiado doloroso, tanto para ela como para nós, família. É uma dor que jamais desaparece...

Anónimo disse...

Aí é que está! Será que a senhora realmente se apercebe do mesmo que nós? Ou tem a sua própria percepção das coisas? Talvez seja feliz na sua ignorância e não se dar conta do que se passa com ela. É quem está ao seu redor que sabe. Às vezes achamos que são essas pessoas as infelizes, mas talvez não seja assim...talvez tenham só uma percepção diferente da nossa...

Beijinho grande para ti *B* *

C. disse...

é mesmo uma situação muito difícil. felizmente nunca tive ninguém próximo com essa doença, mas só o nome é assustador... beijinho qerida

Anónimo disse...

É muito complicado... A minha avó não tem alzheimer mas está já num estado avançado de demência, só reconhece os da casa e por vezes fica parada a olhar para nós... acho que por vezes não sabe quem somos! é muito complicado conviver com alguém que já não é nem metade do que um dia foi. E pior é quando em alguns momentos têm consciência disso... Força*

*B* disse...

Ana, bem-vinda.

Que testemunho fantástico o teu, apesar do sofrimento. Não imagino o que passaste e passas, mas o amor que tens pelo teu Avô e a forma que encontraste para serem felizes, é admirável.

Obrigada pela partilha.

Beijinho... a ambos! ;)

*****

Dina, sem dúvida. Nunca tinha contactado com ninguém com a doença. É chocante, mesmo.

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Benedita, verdade. Injusto.

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Sorriso, é mesmo para assustar e fazer-nos pensar.

[não tens de quê; afinal fazias tudo bem ;)]

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...Ju..., foi angustiante, sem dúvida. Não acredito que a minha antiga vizinha não se lembra de mim... :(

*****

Ju, :(

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Jasmim, imagino.

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Pam, bem-vinda. Eu não conhecia ninguém também, até sábado. Claro que não podemos viver a pensar em doenças que não sabemos se vamos sofrer ou se alguém que amamos vai sofrer, mas dá que pensar mesmo. E assusta.

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Serena, :(

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Clëo, :(

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Lacorrilha, bem-vinda.

Pois, não deve ser fácil para ti, não... Lamento. :(

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Lena Ruivo, bem-vinda.

Não consigo imaginar isso. De qualquer modo, admiro pessoas como a Lena. Que não abandonam os Pais. Que não se deixam vencer por esta doença terrível... E dentro de si só vive amor.

Parabéns por isso.

Abraço apertado.

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Enfant, concordo. É estúpida, é cruel. É demais...

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Madalena, bem-vinda.

Imagino... :(

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Nokas, nem quero pensar... Força!

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Laranja, concordo contigo, querida. Para eles, cuja percepção é bastante diferente da nossa, talvez a felicidade seja isto, mas o problema é que, pelo que entendi, isto é só o estágio inicial da doença. Quando avança, piora muito.

Beijinho, querida*

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Hermione, eu também não, mas que assusta...

Beijinho, minha querida.

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Amarrotada, imagino... Força para vós e para a Avó! Eu, felizmente, não convivo diariamente com ninguém assim, mas imagino o quanto deve custar. Em especial, para eles... :(

Abraço apertado

Joana | My Pretty Mess disse...

O meu avô também tinha esta doença.
E nos últimos tempos tratava todas as netas por Paula, porque não se lembrava dos nossos nomes.

*B* disse...

Oh Joana, lamento... :(

Cat disse...

A minha avó teve. É uma angústia que não dá para explicar assistir a alguém a perder tantas capacidades intelectuais e cognitivas de uma forma tão rápida, tão irreversível... Muito triste, os últimos tempos então foram um grande grande sofrimento :(

*B* disse...

Querida Cat, não imagino... :(

*B* disse...

Shiine*, pois. Se calhar até é preferível a pessoa estar sempre no seu mundo para evitar aperceber-se...

:s

Girls' Things disse...

É bastante inquietante e assustador pensar que um dia nos pode acontecer algo de semelhante! :(

D* disse...

Essa doença é muita tramada. A minha avó também tinha e era desesperante falar para ela e ela não nos conhecer, ou lembrar-se de coisas que não passava pela cabeça de ninguém, como por exemplo que tinha uma pessoa morta num barco em casa. Ao fim de muitos anos e já acamada estava mais lucida e embora não falasse sabiamos perfeitamente que nos reconhecia.

beijinhos querida B*

Mariana, a mãe e a tia disse...

Tenho o meu padrinho assim. Num funeral de um tio meu, perguntou-me vezes sem conta como ia a escola, e que eu estava tão crescida. Isto com espaços de segundos entre si. Eu já trabalho há 10 anos :(

Felizmente ainda sabe que sou a afilhada dele, só não sabe o meu nome...

E doí, doí imenso ele não saber que doença tem e todos os dias se esquecer de mais um pormenor, que para o MUNDO pode ser tão insignificante, mas para nós, que o amamos, é tudo.

Beijinhos

*B* disse...

Girls' Things, pois é.

*****

formiga, nem imagino o sofrimento. O vosso e da Avó. Lamento, querida... :(

*****

Margarida, bem-vinda!

Não consigo [nem tento] imaginar o que sofrem... Os doentes e a família, mas desejo-te toda a coragem do Mundo para conseguires enfrentar essa situação.

Beijinho especial*

Kikas disse...

não imagino como é e espero nunca ter que passar pela dor de ver alguém assim :s ou que me calhe a mim..

*B* disse...

Kikas, também espero, querida.

Dia - a - Dia disse...

Olha tb conheço uma sra assim, através da minha sogra. Então a minha sogra conta-me às vezes que ela não conhece o marido, e diz que o marido deixou-a sozinha em casa com um desconhecido e que vai atirar água quente para ele, quando tiver dormindo :S As pessoas lá vão tentando falar e dizer que é o marido, mostram fotos e tal. Mas volta sp ao mm. É triste....

*B* disse...

Dia - a - Dia, que horror. Nem imagino...

:(

Agri Doce disse...

Sabes que acredito que seja muito pior para as pessoas que a rodeiam, como filhos e netos do que para a própria...ela nem tem noção. Mas não deixa de ser uma doença atroz...

*B* disse...

Agri Doce, sim, concordo contigo.

A pessoa vive no seu mundo e nem se deve aperceber, acho.

E só de pensar... :(