Arranjinhos

Eu sou uma casamenteira nata*. Adoro emparelhar! E com emparelhar - sem qualquer conotação sexual - quero dizer que sofro daquele problema (talvez até meio-parvo) que se resume a uma enorme dificuldade em ver pessoas sozinhas. Sem namorado. Sem ninguém para partilhar os dias bons e os maus. Sem aquela pessoa. Eu não acho que uma pessoa sem namorado não seja feliz. Muito pelo contrário. Eu tive o meu primeiro namorado bem tarde até (da forma como as miúdas são agora, ter o primeiro namorado aos 17 - como eu - era um motivo muito bom para me gozarem) e quando alguma relação minha terminou, depois da fase-em-que-achamos-que-somos-as-pessoas-mais-infelizes-do-mundo-e-ninguém-faz-a-menor-ideia-do-que-é-sofrer, eu ficava bem sozinha.
Mas admito que me incomoda. Na verdade, durante muito tempo eu achei que era uma parvoíce minha, mas acho mesmo que é uma questão de género. É das mulheres.Imaginem que a namorada de um amigo nosso termina a relação com ele. No início é claro que o vamos apoiar e mostrar que foi melhor assim, vamos apontar todos os defeitos dela e inventar mais alguns, que não teriam futuro e todos aqueles clichés do costume. Mas depois disto, eu, como mulher, começo logo a magicar uma amiga solteira e com algo em comum para combinar um jantar ou um café e fazer ali um arranjinho.
Se for um homem, acha logo que ele não deve se meter noutra tão cedo e vê logo como é fantástico chegar a casa e poder comer no sofá, ter a cama toda para ele, não lavar a loiça, poder espalhar a roupa toda e só apanhar para lavar, quando já não há mais nada para vestir. Poder ter a TV sempre no futebol, no futsal, no hóquei e no ténis. Sair sempre que apetece, não ter preocupação com as horas e dar puns em todo o lado. Talvez seja uma máscara para não admitirem que sofrem. O que é certo é que ninguém é totalmente feliz sozinho. Pior: ninguém é totalmente feliz só.

|Imagem - Eva Mendes|

*Visto que nenhum dos meus arranjos deu em casamento,
de casamenteira tenho pouco. Fico-me pela nata.